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Relacionamentos abusivos , e suas dinâmicas silenciosas .

  • 30 de mai. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 3 de out. de 2022



Quando ouvimos alguém dizer “ relacionamentos abusivos” logo nos vem à cabeça violência física, talvez seja o clichê primário desse tema tão abordado em dias atuais, entretanto, existem alguns abusos que podem ser executados de formas tão silenciosas que, o abusado pode até confundir com ser “cuidado” ou zelado” pelo outro, e na verdade ele está dentro de uma agressão emocional, e não tem a percepção desse movimento.

Os abusadores em geral são maquiavélicos, (alguns podem até exercer os abusos de formas inconscientes), eles estabelecem um jogo de manipulação fazendo com que o outro sempre se sinta um nada, as vezes o abusador não faz nenhuma atitude violenta de, gritar, humilhar, porém, faz pequenos movimentos silenciosos do tipo:

”. Ah essa roupa é feia em você, ou a cor não te favorece muito. ”

“Nossa suas gargalhadas dão para ouvir lá na esquina”.

“Você só consegue fazer arroz carnavalesco, todos saem assim em blocos”??

“Estive te observando de costas, você notou que está um pouco quadrada”??

“ Quer trabalhar ?? Para que? Não vai conseguir mais que um salário mínimo”.

“ Acho melhor você não tirar habilitação, os postes ainda não são de borrachas “ Você foi promovida no trabalho ?? Nossa não existem mais critérios avaliativos como antigamente viu. ”

“ É melhor me aturar, afinal quem cuidará de você quando ficar doente, você não tem ninguém além de mim”.

“ Eu sou a melhor pessoa que você poderia ter na vida”.

“ De novo esqueceu a luz do banheiro acesa? Ah é claro não é você quem paga a conta “.

Os movimentos abusivos são apresentados de maneiras não palpáveis, eles vêm carregados de vários tipos violências silenciosas, como, a violência patrimonial, moral, psicológica, a violência de cercear o desejo, e as vontades do outro indivíduo. O que são irrefutáveis nesses comportamentos abusivos, é a notoriedade do gozo que, o abusador tem em subestimar a outra pessoa, e fazer ruir sua autoestima, e de sempre fazer valer suas vontades em primeiro lugar nessa relação. É muito comum também o abusador conhecer seus pontos “fracos” e provoca los, até o outro perder o controle de si, e é nessa hora que mais uma vez ele exerce um domínio sobre o abusado:

“Nossa como você é desequilibrada “

“ Sua TPM dura o ano inteiro”?

“Você é chata, só eu te aturo nessa vida”

“ Explosiva, irritada “

São nessas dinâmicas abusivas, que o indivíduo consegue mobilizar o outro em um sentimento de culpa muito grande, fazendo com que o abusado tenha sempre um desejo de resgatar a relação, e que precisa pedir perdão ao outro, e é lógico pisar em ‘ovos” com o abusador não é verdade? Pois uma característica muito comum deles, é a baixa tolerância a frustração, se irritam com muita facilidade podendo até ter alguns surtos, e sim partirem para a violência física.

O fato é que, nas relações abusivas o maior prazer do abusador é sentir que o outro está fragilizado, vulnerável, e tudo isso acontece porque o mesmo, é um indivíduo extremamente inseguro, tem baixa autoestima, e na maioria das vezes joga o outro no chão, para se sentir poderoso e dominante.

O Abusador normalmente vem de uma família negligenciada no sentido afetivo, teve pouco lugar nessa família, e não sentia se pertencente dela, portanto ele entende que, através da fragilidade do outro, ele consegue controlar, manipular, e sente-se extremamente perverso com isso, aliás essa é uma outra faceta do abusador, esse comportamento perverso sem qualquer empatia, a preocupação única dele, é sentir que o relacionamento é posse dele.

O que é importante salientar, mesmo usando o termo ‘abusador” num sentido masculino, estamos nos referindo à homens, e mulheres que protagonizam algum tipo de abuso no relacionamento.

Muito se fala sobre essa permissividade, e se pode ser algum tipo de carência afetiva, não é só a carência, pois ela é efêmera, e para essa dinâmica criar corpo ela depende que o abusado tenha uma imagem distorcida se si mesmo, e que não se sinta merecedor de nenhum tipo de afeto, acreditando que, tudo que faça na relação não seja bom o suficiente.

Vamos entender porque o abusado sente –se digno de receber essas agressões emocionais, geralmente são pessoas que tiveram em suas relações primárias , pais ou cuidadores agressivos , ou indivíduos que foram abandonados na infância , por isso não conseguem ter essa percepção de falta de amor , e se entregam de corpo e alma a essa “tutelagem”, dizendo como ela deve se vestir , como deve se comportar , por não ter um parâmetro de afeto, de um amor saudável , ela pode confundir com amor esses comportamentos , havendo uma tolerância anormal , que a impede de sair dessa relação .

Fazendo um recorte para as teorias de Freud, podemos encaixar essas dinâmicas

em um viés mais psicanalítico, para entendermos como funcionamos em nossas estruturas psíquicas primordiais.

Voltando para o nosso momento primário, ou primeiro de vinda ao mundo, não podemos ignorar, ou nos livrar da nossa história, e deixar para trás tudo que fomos e o que aprendemos a ser, sendo, não é verdade?

Nós viemos ao mundo como bebês em situação de desamparo, que é um desamparo da estrutura da condição humana, sabemos, respirar, deglutir, mamar, andar, e dependemos de um outro (pai, mãe, tios, avós cuidadores), que vão nos constituir enquanto indivíduos, a nossa posição primária é de não saber, e é de se espelhar no outro que, me dá a imagem do que eu deveria ser, do que eu deveria alcançar, e isso é muito importante. Freud em suas teorias sobre masoquismo e sadismo, pulsões e a reversibilidade pulsional, nos dá a visão desse funcionamento, como se fosse mais ou menos um jogo especular. Eu estou vendo seus olhos me vendo, e você vê meus olhos te vendo, se o outro me agride é uma projeção minha que, denota um desejo de ser agredida claro que de uma forma inconsciente.

Novamente de mãos dadas as teorias de Freud, ele nos conta que após 30 anos de clínica, ele dá voz ao que conhecemos como, Masoquismo primário, e porque nossa posição fundamental, seria baseada no masoquismo primário?

Como já falamos, o outro (os primeiros cuidadores) é aquele que sabe de mim , que cuida , e me manipula , e teve que me manipular, no melhor sentido , nós estamos nas mãos do outro literalmente , e inconscientemente sempre estamos em condições de nos deixar manipular , de nos deixar dominar, de nos deixar acreditar , pois em algum lugar arcaico , inconsciente e infantil fundamental ,o outro sabe o que eu não sei, e eu preciso do outro para saber o que eu não sei, como se colocássemos o outro na posição do sujeito suposto saber, como dizia Jacques Lacan. Estamos sempre supondo ao outro que ele sabe, então é essa parte de você, que não confia em você, que sempre tem dúvidas, a parte inconsciente intuitiva negada por você, e é partir daí que o abusador vai dizer, você é isso, ou você é aquilo.

Entrando na pragmática de um relacionamento “Abusivo Clássico “ homem e mulher (violência física, assedio, abusos, dominação etc), vamos usar essa linha de exemplo, o abusador vai lá e diz:

“ Bati em você, porque você é chata, ciumenta”

“ Bati, pois você me provocou, tive que fazer isso “

E aí tem um pedacinho nosso que vai sussurrar lá no fundo:

“ O que será que eu fiz? ”

“ Onde foi que eu errei “?

“ Porque não sou aquilo que esperavam de mim”?

A Pergunta que permeia a mente do abusado é onde será que o outro encontrou minhas fissuras?? onde achou minhas faltas?? talvez o outro tenha razão de agir assim comigo. No fundo, quais as falas que damos ao outro, a condição do sujeito suposto saber de nossas vidas? Será que sugestionamos ao outro de forma inconsciente, sim eu sou faltante, e você é tudo que preciso para viver.

Todavia quando falamos em relações abusivas com mulheres, pois estatisticamente são as que mais sofrem abusos, manipulações, assédios, assassinatos, penso que a nossa cultura é uma grande contribuinte facilitadora desse “teatro”, onde o homem teria algo a mais, e a mulher teria algo a menos, o homem sempre fálico, e a mulher faltante.

É a grande farsa da história, e que agora estamos descortinando ela, fazendo aos poucos o resgate dessas mulheres, para que ela incorpore suas potencialidades, e autoestima de volta, pois não precisam mais mostrar se vulneráveis aos atos de dominação do outro, buscando terapia Psicanalítica você consegue a reconstrução de quem é você, e a partir dessa reconstrução confiar mais no que você é de verdade.


 
 
 

2 Comments


Fabiana
May 31, 2020

Muito obrigada 😊

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adryana-dryka
May 31, 2020

Adorei a explicação.

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